segunda-feira, janeiro 01, 2007

Solidão


31 de dezembro de 2006.
O dia inteiro melancólica. Olhava pela janela, sem ser vista por eles... Lembrou do pai com uma saudade...!
Ficou se lembrando da cara triste do Sadam com a corda no pescoço. Sonhou com ele, a noite passada; um sonho ruim, é claro.
Ficou lembrando que não conseguiu dar os parabéns à mãe pelo aniversário, no dia anterior. Que todos deviam estar na chácara que a família da cunhada sempre alugava para passar o reveion. Que, de fato, estava cada vez mais sózinha, longe da família, e, aí, a saudade dos tempos com o pai foi aumentando. E que é muito duro preferir viver sempre dentro da verdade. Muito duro. A maioria das pessoas parece conseguir viver muito bem, obrigada, fingindo que tem e faz parte de uma família legal, harmoniosa, quase perfeita. Por que é que ela não consegue?
Lá pelas 14 e tanto, ele ligou. Queria dizer que a chuva despertou nele mil fantasias. Que queria fazer amor com ela, de quatro, no mato, na chuva. Que ficou pensando em grandes pingos de chuva caindo nas costas dela. Depois, nos seus seios. Depois, em beijá-la na boca molhada, o cabelo molhado, tudo. É claro que ela adorou. Adorou ele fantasiar e que fosse com ela e que ligasse. Num tava muito bom? Tava. Mas ela se ofereceu. Isso mesmo: se ofereceu. Falou que tava com saudade, que queria vê-lo. Ele também quis. Combinaram pras 17h. Ela iria buscá-lo. E se arrumou toda. Banho esfoliante, óleo corporal, perfume francês, brincão de argola.
Saiu de casa às 17 e 15. Ligou no celular dele e nada. Em casa: nada. Droga. Lembrou que algo lhe dizia que não ia rolar. Mas foi. Quem sabe, ele estaria na esquina, né? Ou na porta. Ou pela rua. Sempre fica meio desnorteado, quando vão se ver. Mas...nada. Parou perto da casa dele. Ligou de novo. Celular, casa: nada. Bom, foi dar umas voltas, comprou chiclete, tudo bem devagar, "quem sabe ele liga, né?", já meio broxa. Aí, foi se sentindo mal por dentro, "não acredito que isso tá acontecendo comigo...". Que absurdo! Foi ficando muito puta. Se ele ligasse, ela ia detonar. Mas ainda não ligou. Vai ligar. Voltou pra casa e desabafou num caderno. Eram 18 e 5.
Por que ele não disse que não podia, não queria? Se foi um imprevisto, por que não ligou pra ela? Se foi uma emergência, por que não levou o celular? Porra! Por que não pensou nela??? Porque não era importante. É isso. Não era importante. A gente abaixa demais, a bunda aparece, não é assim?
Só achava que não precisava ser justo hoje. Qualquer hora dessas, ela entende isso. Agora, é preciso calibrar o humor para ter o tom certo, na hora que ele ligar. Só isso.
E o pai das suas crianças tinha ido lá, levar os presentinhos de Natal, finalmente: dois radinhos com fone de ouvido. Ficaram os três mais o gato, dentro do carro dele, tava chovendo. E ela vendo da janela. Tão bonitinho...! Que dó sentiu deles 4 mais o gato! Que pena ele e os filhos perderem a oportunidade de viver tantas coisinhas bobas, simples e tão bonitinhas de pai e filhos! Que pena...!
Foi aí que o telefone tocou, lá pelas 14 e tanto...

4 comentários:

Anônimo disse...

Linhas tecladas e imagens formadas. Um bom roteiro de cinema é isso. Bem, não só de cinema.
É conseguir transformar palavras em visual, não necessariamente impressionados na nossa retina, mas gravadas na nossa mente, deleitando nossa imaginação!
Parabéns, Já!

Zeca disse...

Que sacanagem ele não aparecer! E Que sensível seu blog! Adorei! Visitei-o quando li seu comentário no Crônicas, o site do Paulo de Tarso. Não me arrependi... tanto que já deixei dois comentários!!!
Bom, continue escrevendo que vou aparecer sempre. Já gravei no favoritos do meu micro!
Zeca

Zeca disse...

Oi, voltei. Obrigado pela resposta, por ter comentado lá na minha página de teste. Estava enrolando desde novembro pra iniciar meu blog, mas resolvi criar vergonha na cara e publiquei hoje meu 1o post! :-)
Dê uma passada por lá e dê uma olhada, o café está quentinho esperando!
Zeca

Zeca disse...

Valeu novamente pela visita!
Zeca